Para quê tanta pressa no acelerador para encomendar os sonhos?
O tempo é propício às lutas de vizinhos, por uma das milhares de consolas nas prateleiras dos hipermercados.
Deixamo-nos cegar pela ideia de dar o melhor, ao melhor que temos, em nome do simbolismo.
E temos sempre pouco. Tempo, dinheiro….
Todos os anos prometemos a nós próprios, que no próximo vamos fazer melhor, na lista do cabaz, na carta ao Pai Natal, na poupança das economias…
Falamos de crise, mas a correria nas ruas trai os mais cépticos. Os shoppings estão lotados. As filas intermináveis para entrar em grandes superfícies. Filas que nos torram a paciência nas caixas para pagar….
Depressa nos esquecemos dos tempos de criança e viramo-nos contra os miúdos, por não terem nada que fazer birra com o que vêem nas prateleiras. Lá vai um, lá vai outra, a arrojar pelo chão, como se fizessem skimming nos ladrilhos encerados aos olhos do consumo.
Para onde vão todas as prendas e os sacos da consoada, cheios de bebidas, perus, bacalhaus, filhozes, broas, troncos, bolos reis e rainhas…para onde vão todos?
Vimos luz, muita luz, mas também vimos pouco brilho nos olhares. Poucos sorrisos afáveis, pouca paciência para uma conversa fraterna, apertos de mãos demorados, abraços de ternura, mais gratidão, mais carinho, mais compaixão…
….e sentimos crescer as ofertas por mero interesse e interesses, os abraços frios e calculistas, o ódio que ronda quem não tem a mínima disposição para a reconciliação.
Cortando o frio com algodão, lã e fazenda no regresso a casa, ouvimos o chão gritar .- Feliz Natal! – a voz dum mendigo ébrio, sentado na calçada.
Dizemos, ou pensamos: “é louco!”. Tão louco, como a cidade enlouquecida pela febre do consumo. E nem sempre há discernimento para avaliar o que é o verdadeiro significado da expressão.
Modo de vida? Caridade? Fraternidade? Qual quê, festa e mais festa, quero lá saber do encanto do mar no vai e vem das ondas que se espreguiçam na praia, do rio que corre sem leito, da noite sem luar, da estrela sem luz, da ausência de cor no crepúsculo, da brisa matinal que nos provoca a face…
Andamos à deriva, perdemos as asas, afundamos o barco e não percebemos que a união dá-nos a paz, a intimidade, a força para caminhar mesmo sem bússola, enaltecendo a alma e dando sentido à vida, mesmo que não passe de mera ilusão.
Para quê tanta pressa no acelerador para encomendar os sonhos?
Agora espreitem aqui:
http://www.playingforchange.com/episodes/2/Stand_by_Me
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