domingo, 6 de junho de 2010

O ciúme

Quem nunca teve 1 namorado que desatou à pancada ao trauseunde que teve o azar de olhar para o grupo de amigos em que se encontravam? Quem nunca teve 1 namorado que vos partiu a cabeça por irem ter com ele com 1 sorriso estampado na cara às 6 da manhã? Quem nunca vos fez sentir mal por vestirem 1 mini-saia ou calção mais justo e curto? Quem nunca pôs em causa uma relação por 1 sentimento absurdo sem razão de existir?

É para essas pessoas que escrevo, sem medo de assumir o fracasso, por ter sentido na pele, o que de pior existe no ser humano, quando levado ao extremo.

De acordo com a psicóloga Ayala Pines, ciúme é "a reação complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade.. Provoca o temor da perda e envolve sempre três ou mais pessoas, a pessoa que sente ciúmes - sujeito activo do ciúme -, a pessoa de quem se sente ciúmes - sujeito passivo do ciúme - e a terceira ou terceiras pessoas que são o motivo dos ciúmes - pivô do ciúme.


Segundo a psicóloga clínica Mariagrazia Marini, esse sentimento apresenta caráter instintivo e natural, sendo também marcado pelo medo, real ou irreal, de se perder o amor da pessoa amada. O ciúme está relacionado com a falta de confiança no outro e/ou em si próprio e, quando é exagerado, pode tornar-se patológico e transformar-se em uma obsessão.

A explicação psicológica do ciúme pode ser uma persistência de mecanismos psicológicos infantis, como o apego aos pais que aparece por volta do primeiro ano de vida ou como consequência do Complexo de Édipo não resolvido]; entre os quatro e seis anos de idade, a criança se identifica com o progenitor do mesmo sexo e simultaneamente tem ciúmes dele pela atracção que ele exerce sobre o outro membro do casal; já na idade adulta, essas frustrações podem reaparecer sob a forma de uma possessividade em relação ao parceiro, ou mesmo uma paranóia.

Nesse tipo de paranóia, a pessoa está convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade do parceiro e passa a procurar “evidências” da traição. Nas formas mais exacerbadas, o ciumento passa a exigir do outro coisas que limitam a liberdade deste.

Algumas teorias consideram que os casos mais graves podem ser curados através da psicoterapia que passa por um reforço da auto-estima e da valorização da auto-imagem. Porém várias teorias criticam a visão psicanalítica tradicional (exemplo:esquizoanálise).

Outros casos mais leves podem ser tratados através da ajuda do parceiro, estabelecendo-se um diálogo franco e aberto de encontro, com a reflexão sobre o que sentem um pelo outro e sobre tudo o que possa levar a uma melhoria da relação, para que esse aspecto não se torne limitador e perturbador.

Há vários relatos de conselheiros sentimentais, psicoterapeutas e outros com aspirações a isso, mas o facto é que a realidade mostra uma coisa muito simples:

Existe um quadro clínico chamado Ciúme Patológico que realmente não melhora com nenhuma forma de psicoterapia mas pode melhorar muito com doses baixas de neurolépticos.

Mas o ciúme Patológico é impossível tratar se a pessoa não aceitar que sofre disso.

E as pessoas que sofrem de Ciúme Patológico quase nunca reconhecem. Quem aceita que tem e sofre com isso, deve aproveitar e procurar um psiquiatra para se tratar, isso passa. O problema é que as pessoas quase nunca querem tratar.



1 ESTUDO ACADÉMICO SOBRE CIÚME:

Ciúme

Na mitologia grega, o ciúme aparece na história da Deusa Hera que ao matar as amantes (mortais) de Zeus manifestava o seu ciúme pelo medo de perder o poder. Outra manifestação de tal sentimento aparece na história de Medeia, que por ciúmes mata o marido, a amante e involuntariamente seus filhos.

Segundo Moreno (2004) "desde o seu nascimento, Hércules, que era metade divino e metade humano, foi perseguido pelo ciúme de Hera, a senhora do Olímpo, que via naquele menino mais um odiosa evidencia das traições de Zeus".

É conhecido também como a síndrome de Otelo, uma das principais obras do escritor inglês William Shakespeare, publicada em 1604. A história conta a tragédia do bravo "Mouro de Veneza" Otelo, veterano de terríveis batalhas e representante militar do reino de Veneza. Casado com a bela Desdêmona, Otelo cede às intrigas de seu subordinado Iago e, possesso de ciúme, mata sua esposa. Ao descobrir o engano, Otelo comete suicídio. É célebre a frase de Shakespeare que diz: "os ciumentos não precisam de motivo para ter ciúme. São ciumentos porque são. O ciúme é um monstro que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce".

Mais próximo à realidade brasileira podemos verificar o ciúme na obra de Machado de Assis (1899), Dom Casmurro, no momento em que Bentinho, o protagonista da história sente ciúme de sua esposa Capitu ao achar que ela o está traindo.

De acordo com Marazziti (2003), o ciúme é definido como a percepção do individuo frente a ameaça ou perda de valores no relacionamento para um rival real ou imaginário,como pensamentos infundados de falsa fidelidade.

Segundo Ballone (2004) no que diz respeito ao ciúme a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza, freqüentemente se torna vaga e imprecisa. No ciúme as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou francamente delirantes. O ciúme seria um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos de alguma ameaça à estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado. As definições de ciúme são muitas, tendo em comum três elementos:

• E. Ser uma reação frente a uma ameaça percebida;

• F. Haver um rival real ou imaginário e;

• G. A reação visa eliminar os riscos da perda do objeto amado.

Segundo Guimarães (2004), o ciúme nada mais é do que a dificuldade que uma pessoa tem com relação à sua segurança em manter o afeto, o interesse de alguém com quem se mantém um relacionamento afetivo, que pode ser amoroso ou não. "O ciúme tem uma característica especial que envolve a auto-estima que a pessoa tem e o julgamento que ela faz do envolvimento do outro". Mesmo havendo uma causa específica comprovada para o ciúme, muitos especialistas afirmam que o sentimento estaria relacionado com um rebaixamento da auto-estima, a alguns problemas de infância e a deficiências psicológicas.

Assim como Marani (2001) nos diz, o ciúme não é uma única emoção simples, mas combinações múltiplas de várias emoções que podem aparecer em conjunto ou agrupadas e que são a inveja, seguida de raiva, ódio, pena, autocomiseração, vingança, tristeza, mortificação, culpa, vaidade, inferioridade, orgulho, medo, e ansiedade. Todo ser humano sofre de ciúme, seja ele moderado ou patológico (grifo nosso) ou é alvo ou instrumento do ciúme de outros seres humanos e como a sua manifestação é universal, os autores concordam em aceitar que seja normal na evolução do ser humano. Sua manifestação está sempre muito próxima da ansiedade e pode assumir diagnóstico grave ao persistir durante muito tempo. De acordo com Sims (2001), o sentimento do ciúme, juntamente com sentimento de que o objeto amado "pertence a mim" e "eu pertenço ao outro", é parte da experiência humana normal.

Conforme Marani (2001) o ciúme é um sentimento normal quando surge como resposta a uma situação real, imediata, com sua duração limitada a um tempo que nem sempre é definido, porém certamente limitado. Quando o ciúme começa a se prolongar no tempo e aumentar de intensidade, alguma coisa deve estar acontecendo. O ciúme atua mais na esfera da angústia e da ansiedade, gerando, portanto, estados ansiosos mais persistentes.

Segundo Ferreira-Santos (2003) pg. 78 "algumas pessoas são mais ciumentas do que outras, mas há situações em que essa simples conceituação quantitativa do sentir começa a mostrar que numa determinada pessoa, o ciúme foge totalmente do seu controle, tomando uma porção considerável de sua vida, senão toda ela."

Neste caso, já poderia se entender o ciúme em um nível patológico, conforme discutiremos no próximo capítulo.

2.2. Ciúme Patológico

Segundo Guimarães (2004), pelo menos três situações seriam propícias para o desenvolvimento de algum grau de ciúme. Na primeira, a auto-estima da pessoa é baixa, e ela se percebe inferior em diversos aspectos, que vão desde a aparência física até os atributos intelectuais. Uma outra situação é aquela em que o parceiro freqüentemente manifesta um interesse real por outras pessoas. Há ainda uma terceira situação, o chamado ciúme patológico.

Ey 1950 apud Sims (2001) diz que o ciúme patológico ou mórbido pode se manifestar de várias formas, por exemplo, como delírio, como idéia supervalorizada, como afeto depressivo ou como um estado de ansiedade. O ciúme pode ser identificado como delirante quando a crença do cônjuge ou outros está baseada em evidências delirantes. Tais delírios são resistentes ao tratamento e não mudam com o tempo.

Segundo Ballone (2004), o conceito de Ciúme Patológico compreende vários sentimentos perturbadores, desproporcionais e absurdos, os quais determinam os comportamentos inaceitáveis ou bizarros. Esses sentimentos envolveriam um medo desproporcional de perder o parceiro(a) para um(a) rival, desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no relacionamento interpessoal. Depois das idéias de ciúme, a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas dúvidas. O(a) ciumento(a) verifica se a pessoa está onde e com quem disse que estaria, abre correspondências, ouve telefonemas, examina bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas, segue o companheiro(a), contrata detetives particulares, etc. Toda essa tentativa de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida. Depois da capitulação, a confissão do companheiro(a) nunca é suficientemente detalhada ou fidedigna e tudo volta à torturante inquisição anterior. Os ciumentos estão em constante busca de evidências e confissões que confirmem suas suspeitas, mas ainda que confirmada pelo(a) companheiro(a), essa inquisição permanente traz mais dúvidas ainda ao invés de paz.

Segundo o DSM.IV.TR ( 2003 pg.327) tópico sobre transtorno delirante aparece o tipo ciumento:

"Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a estar sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico, esta crença é injustificada e esta baseada em inferências incorretas apoiadas por pequenas evidencias, que são colecionadas e usadas para justificar o delírio. O individuo com o delírio geralmente confronta seu cônjuge e parceiro e tenta intervir na infidelidade imaginaria".

No DSM.IV.TR (2003) os Critérios Diagnósticos para Transtorno Delirante (F22.0 - 297.1) pg. 330, onde se inclui o Transtorno Delirante de Ciúme seriam:

• H. Delírios não-bizarros que envolvem situações da vida real, tais como ser seguido, envenenado, infectado, amado a distância, traído por cônjuge ou parceiro romântico ou ter uma doença com duração mínima de 1 mês.

B. O critério A para Esquizofrenia não é satisfeito.

• I. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de suas ramificações, o funcionamento sócio-ocupacional não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é visivelmente esquisito ou bizarro.

• J. Se episódios de humor ocorreram durante os delírios, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos delirantes.

• K. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância, como por exemplo, uma droga de abuso, um medicamento ou não se deve à uma condição médica geral (onde se exclui o ciúme do alcoolista).

Especificar tipo (os tipos seguintes são atribuídos com base no tema predominante do(s) delírio(s):

Tipo Erotomaníaco: delírios de que outra pessoa, geralmente de situação mais elevada, está apaixonada pelo indivíduo.

Tipo Grandioso: delírios de grande valor, poder, conhecimento, identidade ou de relação especial com uma divindade ou pessoa famosa.

Tipo Ciumento: delírios de que o parceiro sexual do indivíduo é infiel.Tipo Persecutório: delírios de que o indivíduo ou alguém chegado a ele está sendo, de algum modo, maldosamente tratado.

Tipo Somático: delírios de que a pessoa tem algum defeito físico ou condição médica geral.Tipo Misto: delírios característicos de mais de um dos tipos acima, sem predomínio de nenhum deles.

Tipo Inespecífico.

"Existem indícios de que alguém pode estar vivendo o ciúme de forma prejudicial, como por exemplo, quando o temor da perda do outro se torna obsessiva e a pessoa fica refém desse medo. Ela passa a não ter mais vida própria, abandona seus interesses e passa a viver a vida do outro, pois o pavor de ser trocado por outra pessoa ou situação, ameaça a sua própria integridade psíquica, não acreditando na possibilidade de estar só. Nesses casos, existe a crença de que o outro é possuidor das coisas boas e a pessoa que sofre deste ciúme doentio depende totalmente dele para viver bem. Por isso, se ele for embora, levará consigo parte de sua vida. Analisando sobre o prisma psicológico temos dois parâmetros: quando a rivalidade é aguçada pelo medo da perda e quando a voracidade é estimulada por este temor. É na segunda hipótese que existe o perigo de que este sentimento torna-se obsessivo", afirma Rossi (2003).

Por isso, como será explicado mais adiante, o Ciúme Patológico pode estar relacionado ao Transtorno obsessivo Compulsivo (TOC), que será mencionado no próximo capítulo.

2.3. Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

Segundo o DSM – IV- TR (2003pg. 443):

"O Transtorno Obsessivo Compulsivo é caracterizado principalmente por obsessões e compulsões suficientemente graves a ponto de consumirem tempo ou causarem sofrimento acentuado ou prejuízo significativo".

De acordo com a APA (1994) não há ainda uma confirmação sobre a etiologia do transtorno, podendo esta estar atrelada a diversos fatores como, por exemplo, a hereditariedade.

Para Baptista, Dias e Calais (2001), o TOC pode estar associado com Transtorno Depressivo Maior, outros Transtornos de Ansiedade, Transtornos Alimentares e Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo não relacionado a transtornos de personalidade é um subgrupo muito pequeno, e que os transtornos de personalidade coexistem na maioria dos casos clínicos.

Segundo Rosário-Campos (1999), o TOC é um transtorno crônico que acomete cerca de 2% da população em geral, manifestando-se independentemente de sexo, raça, escolaridade, estado civil, nível socioeconômico, religião ou nacionalidade. De acordo com a APA (1994), geralmente inicia-se na adolescência, ou começo da idade adulta, podendo aparecer, também, na infância, tendo a idade modal de início para os homens entre 6 e os 15 anos, e entre 20 e 29 anos para as mulheres

Zamignani (2001) caracteriza o TOC, como um transtorno de ansiedade, e sabendo-se que a ansiedade não é auto-determinada, e que existem, portanto, fatores ambientais responsáveis pela sua ocorrência. Supõe-se que a funcionalidade da resposta pode desempenhar um papel importante na manutenção e freqüência dos comportamentos obsessivo-compulsivos. Assim como, sua intensidade e freqüência podem estar relacionadas à estimulação aversiva presente no ambiente.

Segundo a SOS TOC – um projeto do Departamento de Psiquiatria – UNIFESP, a pessoa portadora de TOC tenta ignorar ou eliminar os sintomas através de ações que são intencionais e repetitivas. Geralmente reconhece que seu comportamento é excessivo ou que não há muita razão para fazê-lo. As obsessões ou compulsões acarretam grande estresse, consomem tempo (mais de uma hora por dia) ou interferem bastante na rotina normal, no trabalho ou nas atividades sociais e relacionamentos interpessoais.

Compulsão

Segundo o DSM – IV – TR (2003pg. 443) as compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais cujo objetivo é prevenir ou reduzir a ansiedade ou sofrimento, em vez de oferecer prazer ou gratificação. Estas são seguidas de alívio temporário da ansiedade ou desconforto gerado pelo pensamento obsessivo, mesmo sendo reconhecidas como excessivas e irracionais pelo indivíduo.

De acordo com Sims (2001), o comportamento compulsivo freqüentemente provoca uma ansiedade adicional na pessoa, pela necessidade tanto de executar a ação quanto de preservar sua aceitação social.

Obsessão

A palavra obsessão é normalmente reservada para o pensamento.

As obsessões são idéias, pensamentos, impulsos ou imagens persistentes, que são vivenciadas como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento.

Ainda segundo o DSM-IV-TR (2003 pg. 443), as Obsessões, seriam definidas por: (1) pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento.

(2) os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas com problemas da vida real.

(3) a pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.

"O dilema dos sintomas obsessivos diz respeito ao fato de serem considerados parte do comportamento do próprio paciente, que se esforça para resistir a eles, sem sucesso: isto é, estão sob controle voluntário, mas não são experenciados como completamente voluntários. A obsessão pode ocorrer como pensamento, imagens, impulsos, ruminações ou temores". Sims (2001, pág. 277).

Segundo Schneider, (1959 apud Sims 2001, pg 277), não existe perda com o contato com a realidade. "Uma obsessão ocorre quando alguém não consegue ver-se livre de um conteúdo da consciência, embora quando este ocorre ela perceba que não faz sentido ou pelo menos que está lhe dominado e persistido sem causa".

Considerações Finais

Segundo Ballone (2004), o portador de Ciúme Patológico é um vulcão emocional sempre prestes à erupção e apresenta um modo distorcido de vivenciar o amor, para ele um sentimento depreciativo e doentio. Esse paciente seria extremamente sensível, vulnerável e muito desconfiado, portador de auto-estima muito rebaixada, tendo como defesa um comportamento impulsivo, egoísta e agressivo. Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, as quais podem ocorrer como pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações sem fim sobre fatos passados e seus detalhes. No Ciúme Patológico o amor do outro é sempre questionado e o medo da perda é continuado. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo há sempre dúvida patológica com verificações repetidas, mesmo fenômeno que se observa no Ciúme Patológico. O medo da perda é também um sintoma proeminente nos dois casos.

Segundo Torres (1999) vários autores sugeriram a relação entre Ciúme Patológico e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), com abordagens terapêuticas comuns. Assim, pensamentos de ciúme podem ser vivenciados como excessivos, irracionais ou intrusivos e podem levar a comportamentos compulsivos, como os de verificação.

Ainda segundo Ballone (2004), o Ciúme Patológico envolve riscos e sofrimentos, podendo ocorrer em diversos transtornos mentais. Na psicopatologia o ciúme pode se apresentar de formas distintas, tais como idéias obsessivas, idéias prevalentes ou idéias delirantes sobre a infidelidade. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o ciúme surge como uma obsessão, normalmente associada a rituais de verificação. Sob vários aspectos constata-se que os pensamentos de ciúme partilham várias características com os pensamentos das obsessões: são freqüentemente intrusivos, indesejados, desagradáveis e por vezes considerados irracionais, em geral acompanhados de atos de verificação ou busca de reasseguramento. Os indivíduos que avaliam suas atitudes como inadequadas ou injustificadas teriam mais sentimentos de culpa e depressão, enquanto os demais apresentariam mais raiva e comportamentos violentos. Assim, nos pacientes obsessivos as preocupações de ciúme tipicamente envolvem maior preservação da crítica, mais vergonha, culpa e sintomas depressivos, menor agressividade expressa e muitas ruminações e rituais de verificação sobre acontecimentos passados. De fato, há casos em que predominam comportamentos relacionados à depressão, tais como: retraimento, dependência e maior demanda por demonstrações afetivas, por vezes alternados com raiva, ameaças e agressões.

Segundo Seeman (s/d apud Torres 1999), enquanto no ciúme delirante o paciente está convencido da traição, o ciúme patológico caracteriza-se por dúvidas e ruminações sobre provas inconclusivas, em que certeza e incerteza, raiva e remorso alternam-se a cada momento, o que também acontece no TOC. No entanto, nem sempre seria simples essa distinção. No ciúme patológico, assim como ocorre com sintomas mais clássicos do TOC, o grau de crítica pode variar consideravelmente de paciente para paciente e, ao longo do tempo, passando a ser útil a noção de "espectro" de sintomas variando de obsessivos a delirantes.

Conforme verificamos, portanto, como era apresentado como primeira hipótese, o Ciúme patológico e o TOC apresentam sintomas nucleares comuns, sendo o Ciúme Patológico uma manifestação prevalente no TOC, ou seja, uma forma do próprio deste.

E fica a sugestão, verificar destes sintomas em relação a outros distúrbios psiquiátricos, como o alcoolismo, esquizofrenia, entre outros.

Sem comentários:

Enviar um comentário