domingo, 20 de junho de 2010

O que faz 1 fronteira!

Mesmo ali. Na foz do Guadiana, de um lado o branco das casas algarvias, do outro a cor do tijolo espanhol. E uma ponte com tabuleiro em mau estado leva-nos pelo asfalto...
Espreitei por estes dias, Isla Canela e salta à vista a quantidade de restauros nos empreendimentos mais emblemáticos dos últimos tempos.
Bons acessos. Harmonia nas avenidas cheias de separadores, palmeiras e lombas para os excessos de acelerador.
Praia limpa, vigiada, com jeeps da protecção civil e guardia civil presentes permanentemente, chuveiros de duche e pés modernos em cada acesso ao areal.
No passeio marítimo grupos de miúdos, dois a dois, devidamente identificados com T-shirts do Instituto de Estudos Económicos das Províncias de Espanha, equipados de bonés, óculos escuros de marca e PDA's fazem inquéritos sobre turismo a quem passa.
Não nos perguntam o sobrenome, apenas querem o nosso nome próprio, de onde viemos, quanto combustível gastámos em média. Querem saber se alugámos casa ali...a particulares, a agência, pessoalmente, por telefone, ou via internet. Querem saber quanto tempo vamos ficar, um cálculo sobre o custo do aluguer, qual o regime, se MP, PC ou sem refeições.
Depois passam à qualidade dos serviços, se estamos satisfeitos com os níveis de higiene e limpeza e outros serviços... se é a primeira vez que visitamos o local, ou não. Querem saber ainda o que vamos fazer durante a estadia, ir apenas à praia, ou visitar monumentos, viajar pela região, visitar o Parque D. Aña, Isla Mágica, etc.
No final, reforçam que não querem saber o nosso nome completo, apenas o 1º e pedem-nos o e-mail para validarmos as respostas que nos vão enviar um dia.
Tanto trabalho para quê? Será a crise? Será que os espanhóis se preocupam com a queda das taxas de ocupação?
É domingo. Os Centros Comerciais fecharam em Espanha. Os Mercadonas, também. Mas a restauração está a funcionar. As refeições continuam baratas para o bolso dos portugueses, 4 a 5 euros, mesmo nos restaurantes à beira praia, onde não faltam lugares para estacionar.
No areal há pouca gente de papo para o ar e a banhar-se no mar, apenas se avista algumas famílias com crianças e casais de terceira idade.
Fazemos a viagem de volta. Voltamos a passar a ponte sobre o Guadiana e a sentir o pavimento em péssimo estado, que já tinhamos esquecido ao percorrer as "carreteras" espanholas.
Paramos nos primeiros hipermercados portugueses, meia dúzia de pessoas a encher o carrinho de compras. Nas ruas olhamos os menús dos snacks e restaurantes portugas onde imperam outros preços. Não conseguimos comer por menos de 7 euros em média e isto já a ser optimista. O café universalizou-se por estas paragens ao preço de 70 cêntimos por bica.
Livros? Bom, encontramos a Insustentável Leveza do Ser do Milan Kundera, ou qualquer obra de Lídia Jorge, ou Agualusa, entre os 23 a 26 euros. Também há guarda-sóis de entretela a 7,50 € e os de fibra de nylon variam dos 15 aos 17,50€ ( deve ter a ver com o tamanho). Até os chinelos e havaianas, sejam Ipanema, beepi ou outra marca ranhosa qualquer, não custam menos de 20 euros. E este é o Algarve barato, nem quero imaginar, o caro !
Este é o Algarve dos pescadores, das aldeias à beira mar plantadas, com construções irregulares, que desconhecem e desrespeitam aquilo que chamamos de ordenamento urbanístico. Condomínios, vivendas e apartamentos construídos em qualquer canto.
É o Algarve dos rebanhos de cabra junto aos relvados dos campos de golf, das mulas e cavalos com arreios a pastar durante o dia, para à noite se mascararem de Cristianos ronaldos e outras estrelas para levar os turistas a passear pela região.
O Algarve das ruas estreitas e sujeitas a mudanças de sentido de sinalização de trânsito, de ano para ano. Dos jipes da GNR parados junto aos parques de estacionamento das praias. Dos rallies de moto-quatro dos banheiros nos areais, sujos ainda do Inverno, da maioria dos bares e concessionários de praia fechados, das gaivotas e motas d' água à esturra do sol, sem ainda estarem sujas de limos, ou algas.
É o Algarve dos toldos e chapéus de sisal africano ressequidos à espera dos veraneantes, que teimam em não chegar. Esta tarde contei 20 chapéus-de-sol coloridos na praia, mas horas depois ficaram apenas oito.
É certo que não é humano sujeitar ninguém ao sol das 3 da tarde e que os raios ultra violetas estão cada vez mais perigosos, mas a verdade é que se dermos uma volta a pé, também não vimos quase ninguém e ficamos na dúvida se os portugueses já adoptaram o hábito da siesta dos espanhóis! Mas de noite também não há banhos de mutidão a passear, ou a levar os meninos aos barulhentos carrocéis, a petiscar, ou beber café e comer 1 gelado, em qualquer bar, café ou pastelaria que tão bem caracterizam estas paragens.
Parece que o apelo do presidente para irmos para fora cá dentro ainda não foi ouvdo. Pode ser cedo, é certo. Afinal estamos em Junho e o Verão só chega amanhã. Mas 1 estudozito como fazem os espanhóis também não custava nada e até alimentava a taxa de emprego sazonal, com recurso aos tão famosos ATL's para adolescentes. E sempre ficávamos a saber se a malta gosta mesmo disto assim, ou ver alguma melhoria :)

1 comentário:

  1. A verdade é que o Algarve habituado às marés de gente, dos hotéis lotados e dos parques de campismo entupidos até a borda de gente... se vê agora ao deus dará. Aí entra a ganancia toda, a vontade de ganhar o máximo possível de um povo que já de si explorado e que não está pra esses gastos. É dar um pulinho à Espanha, aí do lado...sai mais barato e mais limpinho. A gente não vai longe... é só ali ao lado...

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