terça-feira, 17 de agosto de 2010

1 boa ladra rouba sempre 1 bom texto !

Amizade Colorida, escrito por Edson Athayde

     A foto do perfil de João no Facebook era a preto e branco, a de Ana era colorida.
     João, na verdade, era preto e branco, como todas as coisas deveriam ser. Quando queria, João era sépia mas nunca abusava do efeito, sabia que, mais cor menos cor, um homem poderia pôr-se a jeito. Já Ana tinha a mania da policromia.
     João não era um problema de impressão, era assim por opção, decidira ainda miúdo não ligar às cores do mundo, não ser verde como a relva, nem azul como um sonho, preferia ser a imagem no espelho de um radical daltónico, retrato velho de um saudoso crónico.
     Já Ana era pastel às quartas e quintas, "ton sur ton" segundas, terças e sextas, berrante aos domingos e aos sábados irreal arco-íris.
     João era um tipo discreto, até meio cinzento, daqueles que não gostam de festas, não vão a bailes, usam galochas no Inverno e tratam doenças com unguentos.
     Ana era daquelas que se alimentam de risos, que já nasceram sem sisos, incapazes de pensamentos sombrios e torpes, que acreditam num mundo em technicolor, em amores de cinemascope.
     João e Ana encontraram-se no Face por acaso, numa caixa de comentários sobre uma exposição de pintura. João clicou no "like" a propósito de umas gravuras feitas em carvão. Ana, claro que não, só tinha olhos para um certo pintor impressionista.
     O certo é que, como num cliché de uma gráfica antiga, os opostos se atraíram, não fosse cupido um irresponsável artista. E assim, Ana e João apaixonaram-se ao trocarem posts sobre um quadro daquele espanhol cubista.
     Ana pintou o sete com a alma de João. E ele imprimiu sombras na aguarela da amada, o que só tornou as cores ainda mais bonitas. Mas, com o tempo, aquela paixão enfim desbotou. João deixara de ser genuíno, já não era a preto e branco como a opinião de um menino. João tornara-se garboso como um pavão e passou a ter casos com raparigas de cartazes de oficina.
     Ana ainda saiu com dois ou três cromos da bola só para fazer ciúmes mas mal conseguia disfarçar o seu negro azedume. Desesperada, viciou-se em tinta da china enquanto João andava enrolado numa lasciva e falsificada serigrafia.
     Um dia, vermelha de raiva, amarela de desespero, Ana morreu de overdose com uma caneta tinteiro. joão, em lágrimas, percebeu o erro mas era tarde demais. Pálido com a perda do amor, ele que se permitira enfeitiçar pelo mundo da cor, deixou de se armar em bom, cancelou o seu perfil no Face e em noites sem lua sai pelas ruas a ganir e a tentar explodir os cartazes da Benetton.

1 boa ladra rouba sempre 1 bom texto !

Amizade Colorida, escrito por Edsin Athayde

     A foto do perfil de João no Facebook era a preto e branco, a de Ana era colorida.
     João, na verdade, era preto e branco, como todas as coisas deveriam ser. Quando queria, João era sépia mas nunca abusava do efeito, sabia que, mais cor menos cor, um homem poderia pôr-se a jeito. Já Ana tinha a mania da policromia.
     João não era um problema de impressão, era assim por opção, decidira ainda miúdo não ligar às cores do mundo, não ser verde como a relva, nem azul como um sonho, preferia ser a imagem no espelho de um radical daltónico, retrato velho de um saudoso crónico.
     Já Ana era pastel às quartas e quintas, "ton sur ton" segundas, terças e sextas, berrante aos domingos e aos sábados irreal arco-íris.
     João era um tipo discreto, até meio cinzento, daqueles que não gostam de festas, não vão a bailes, usam galochas no Inverno e tratam doenças com unguentos.
     Ana era daquelas que se alimentam de risos, que já nasceram sem sisos, incapazes de pensamentos sombrios e torpes, que acreditam num mundo em technicolor, em amores de cinemascope.
     João e Ana encontraram-se no Face por acaso, numa caixa de comentários sobre uma exposição de pintura. João clicou no "like" a propósito de umas gravuras feitas em carvão. Ana, claro que não, só tinha olhos para um certo pintor impressionista.
     O certo é que, como num cliché de uma gráfica antiga, os opostos se atraíram, não fosse cupido um irresponsável artista. E assim, Ana e João apaixonaram-se ao trocarem posts sobre um quadro daquele espanhol cubista.
     Ana pintou o sete com a alma de João. E ele imprimiu sombras na aguarela da amada, o que só tornou as cores ainda mais bonitas. Mas, com o tempo, aquela paixão enfim desbotou. João deixara de ser genuíno, já não era a preto e branco como a opinião de um menino. João tornara-se garboso como um pavão e passou a ter casos com raparigas de cartazes de oficina.
     Ana ainda saiu com dois ou três cromos da bola só para fazer ciúmes mas mal conseguia disfarçar o seu negro azedume. Desesperada, viciou-se em tinta da china enquanto João andava enrolado numa lasciva e falsificada serigrafia.
     Um dia, vermelha de raiva, amarela de desespero, Ana morreu de overdose com uma caneta tinteiro. joão, em lágrimas, percebeu o erro mas era tarde demais. Pálido com a perda do amor, ele que se permitira enfeitiçar pelo mundo da cor, deixou de se armar em bom, cancelou o seu perfil no Face e em noites sem lua sai pelas ruas a ganir e a tentar explodir os cartazes da Benetton.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Eternidade

Há coisas que temos e devemos eternizar, porque são, de facto, eternas.

O texto foi-me dado a ler na escola primária, pelas mãos do meu professor, Eduardo Fonseca. Foi aos 8 ou 9 anos que descobri Saramago e uma escrita que me emocionou, ao projectá-la na minha vida, na minha avó Ana, a mulher que na acreditava que o Homem tinha ido à Luz, seis meses após o meu nascimento, mas que ajudou os filhos e filhas a criar os netos, eu incluida. A mulher que me acalmava muita birra, que me ouvia e com quem eu adorava falar e mexer-lhe nas mãos. A mulher que partiu agarrada à minha mão.

Fica para quem não conhece, Carta à Minha Avó Josefa:  Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo - e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los.

Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira - sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.

Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha.

Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste a lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém.

Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, umas coisas que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro.

Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrijada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos - e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesse escolher das minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já  não vale a pena. O mundo continuará sem ti - e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais importava.

Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas - e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito, e eu
tenho tanta pena de morrer!".

É isto que eu não entendo - mas a culpa não é tua.

by José Saramago

domingo, 4 de julho de 2010

A Bela e o Monstro

As pessoas, às vezes, são como as feras, atacam quando têm fome e depois de saciadas coabitam em harmonia com as presas.

Os animais atacam por necessidade, por fome ou instinto de sobrevivência. Os homens alegam essas mesmas necessidades, mas na realidade atacam por outros fundamentos. Crises de auto-estima, status, ganância, cobiça...um sem-número de razões camufladas numa suposta ferida que deixa marcas para toda a vida.

Diz a mitologia que o Leão de Neméia que devastava a região e o povo não conseguia matar, foi estrangulado por Hércules. Acabada a luta, este arrancou a pele do animal com as suas próprias mãos e passou a utilizá-la como vestuário. Assim, a criatura derrotada, converteu-se numa constelação.

Uma mera história alegórica, eu sei, mas que nos dá lições para a vida. É sempre melhor enfrentar com todas as forças que temos a besta, a deixar que ela continue o seu domínio e a espalhar o mal pela terra.

Hércules utilizou a pele do animal como vestuário, nunca se converteu nele, mas fê-lo converter-se numa constelação, mais uma a pairar no universo infinito.

E se o mal existirá sempre, também o bem existirá sempre, porque há muitas feras por aí, mas também há gente bondosa, capaz de dar a vida pelos outros, mas com a consciência que tem vida para lá dos outros.

É verdade que existe o tempo do verbo " Eu sou", mas também é verdade que existe o "nós somos". É verdade que existe a palavra "poder", mas também é verdade que existem palavras como, queda, ou exaltação.

É verdade que existem corações arrogantes e inflexíveis, mas também existem corações criativos, generosos e optimistas.

É tudo verdade, mesmo quando a mentira não é mais do que um espelho de nós próprios. Nós somos o que fazemos.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Maldição

Que sentimento é esse ?

que te dá energia

capaz de abanar

o Anel de Fogo do Pacífico



capaz de enfrentar

a cólera das tempestades

do golfo do México



a fúria dos ventos

nas pradarias dos States



ou mesmo capaz

de nadar

contras as correntes invasoras

da Europa

que matam e inundam

África...



Que sentimento é esse

que

abre a boca da terra

no topo do globo

incendia a cor do solo

na oceânia

e racha gelo nos polos ?

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ode às bruxas!

O dom de encantar


Com as palavras

Ou...

Uma maldição que enfeitiça

Todos que se encantam



O dom da delicadeza

Da simplicidade

De um carinho imenso

Da doce amizade



Uma grande maldição

Que cativa

Enfeitiça corações

Enchendo-os de ilusões

Transbordando paixão



Será um dom

Ou uma maldição



Poema as Bruxas do Blog Diário de 1 Bruxa

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A Queca da hora e data marcada



Não, não enlouqueci, penso, só ando aparvalhada com este admirável mundo novo! Acho o tema interessante em pleno séc. XXI. E resulta de muita conversa cruzada e sincera de pessoas com que me fui cruzando na vida.

Há quem tenha os sábados por dia de eleição. Argumentam que já descansaram na noite anterior da correria semanal de trabalho e pronto, sempre podem desculpabilizar o mais galdério que goste de noitadas, porque cumpriu a sua função em casa, logo pode bicar à vontade fora, que já não deve ter muita vontade.

Depois há os que acordam às 5 da manhã para a queca do controlo. A vantagem, segundo dizem, é como ter a cenoura à frente do nariz, obriga o parceiro a deitar-se cedo e cedo erguer para dar saúde e fazer crescer. Isto é, se chegarem a casa com vontade, guardem-na até à hora marcada. E cinco da manhã, porquê? Bem, explicam-me, que o cinco é o número do amor e assim há tempo de acariciar, apalpar, ter  1 belo acorda, portanto, e aproveitar a tusa do mijo da manhã, antes do pequeno-almoço e dos miudos acordarem. Assim, enfrenta-se 1 dia de trabalho satisfeitos e com a certeza de que o par não tem vontade de quecar com mais ninguém.

Há ainda os que defendem que ao deitar é melhor, para adormecer em beleza. Como lavar os dentes antes de ir para a cama, acertar o despertador, ou cumprir a rotina do chichi. Ficam com a certeza que, se há desejo àquela hora, é porque durante o dia não houve escapadela possível para outras capoeiras.

Também conheci casais que tinham a possibilidade de ir almoçar a casa e aproveitavam os filhos comerem na escola, para pinocar. A maioria confessa que é melhor antes da refeição, porque apesar da fome, pelo menos não pára a digestão e assim controlam a manhã do companheiro(a). Se chega com apetites vários a casa, é porque não comeu nada fora e saciar a necessidade sexual nesta altura do dia, significa que a tarde vai ser calma e sem margem para outros lanches.

Outros casais planificam a coisa para dias que sabem que há reuniões do(a) parceiro(a) até mais tarde, para assim controlarem se de facto, se realizaram esses encontros, ou outro tipo de reuniões. Sim, porque depois de uma reunião de trabalho daquelas infinitas, vai lá vai, mas tem que haver vontade de cumprir-se outras obrigações.

Os  dominadores também são engraçados. Criam a expectativa diária e cortam-se. Mandam mensagens, telefonemas, mails... etc. A verdade é que chega a hora H e não aparecem. Há sempre 1 desculpa plausivel e quem se vê no papel de dominado, só tem que aceitar, caso contrário, é porque não gosta do parceiro(a), mas aceitam o jogo porque de vez em quando, lá saiem do seu trono e acasalam.

Os swingers também fazem marcação, claro, afinal o lado oculto da coisa, obriga a haver horas, locais e canais de comunicação próprios para concretizarem a combinação. Descobri recentemente que dizem que é uma prática consentida mas parece que vendam os olhos antes de entrar na salganhada. Será para o par não ver? Para se desinibirem? Acho que este grupo, a juntar ao das orgias, podem dar muito trabalhinho aos sexólogos da nossa praça, mesmo que seja só daqui a uns anos.

Pergunto se já entramos na era robocótica, fizemos 1 back to the future, ou um back to the past, porque semelhanças com o periodo da idade média e feudalismo há cada vez mais.

E cada vez se sente menos, que as pessoas vivem a sua sexualidade com paixão, desejo, carinho e fantasia, com a qual controem o seu castelo de confiança. Preferem  optar pelas falsas regras institucionais, normas e rituais, pela mera necessidade de contruir um domínio estável. Físico e psicológico, que na sua grelha cerebral lhes permita dizer a elas próprias que são desejadas, que não são trocadas, que são boas no seu desempenho e que querem por isso eternizar essa sensação de domínio e posse, como se fosse real.

Como dizia o padre António Vieira, nós somos o que fazemos, quando não fazemos apenas duramos. Mas então, que façamos bem. Seremos todos muito mais felizes, ensinando a amar, do que a aprender a odiar. Porque o caminho do ódio é esse, o do controlo e dominio que mais tarde ou mais cedo acaba. E quando não acaba , a falta de coragem torna as pessoas infelizes e acomodadas. Logo mais predispostas ao ressentimento, ao despeito e à manipulação.

Desejo sexual com cumplicidade, precisa-se! Por favor! Mais não seja, porque dizem os especialistas que esse script cerebral é duas a três vezes superior nesse domínio e nós reprimimo-lo em nome de quê? Da estabilidade? Dos votos fracassadamente eternos do casamento? Não alinhem em mentiras, primam pela qualidade, a quantidade não interessa a ninguém.

E só a morte tem hora marcada. Façam o favor de serem felizes !

segunda-feira, 21 de junho de 2010

7 da filosofia e da surpresa!

          O Verão chegou, mas fez tanta ameaça de não aparecer que até os pardais de trigo se assustaram! E andam tontos, a esvoaçar desorientados,
sem saber  se bicam aqui, ou acolá.
         Poisam nas estradas sem ligar ao rufar dos motores dos carros, chilriam à passagem de qualquer pessoa na praia.  Já nem bicam o que resta dos lanches,
nem migalhas do pão, nem restos de bolas de Berlim.
        Nestas alturas, penso, ainda bem que no hemisfério sul apareceu aquela invernia que fez acordar as nossas estrelas lusas em campo. Sim, depois de ver
o Brasil com a Coreia e todo o espectáculo de preparação da nossa selecção ainda na memória, para não falar das primeiras exibições...não acreditei nunca
numa vitória. Preferi convencer-me que era desta, que voltavam para casa e eu respirava de alívio, arrumava dos ouvidos e mandava as vuvuzelas para casa do pai,
se não as pudesse meter no lixo.
         Mas o martírio vai continuar! Nunca pensei dizer isto. Sou portuguesa, bem sei, vesti a nossa camisola muita vez, mas sinceramente o " I've got a Feeling" não
me provocou feeling nenhum, nem me convenceu senão, a fazer uma brincadeira com a música para a festa de finalistas  do meu filho mais velho.
        Não que desgoste dos Black Ide Pees, pelo contrário, aplicam-se no género, mas...tenho olhado para a rapaziada da nossa equipa e vejo muita individualidade,
pouco sentido de grupo e nem consigo ver o Queiróz para além do professor da geração d' Ouro, que já lá vai....
        Hoje enganei-me. E oh que bom enganar-me! Ver um bom espectáculo de futebol alegra-me sempre. Admirei a entrada de leão dos coreanos. Depressa
perceberam que os leões também se dominam, ou se deixam dominar.  Basta o adversário perceber o xadrez,  fazer jogo de equipa e ser certeiro a concretizar, como
se lhes atingissem o coração.
        Desta vez, nada lhes valeu, nem a rapidez, nem a velhaquice nos remates isolados, nem a vaidade de peito cheio, nem as directrizes de quem manda. A vida é
assim, quando menos esperamos, temos surpresas, oxalá sejam sempre boas, enquanto por lá andarmos, pelas terras sul-africanas. Mesmo os mais cépticos, como
eu que nem numa corrente de ar acreditam, valha-nos isso. O efeito surpresa. Nós precisamos, o país precisa e o planeta ainda mais.
      Podemos não ganhar o campeonato, mas 1 vitória sabe sempre bem. É como na guerra, podemos não a liderar, mas ganhar 1 batalha é sempre sinónimo de
muito trabalho, de muito empenho, de muita acção, de muita estratégia, de muito pensamento, logo,  de muita dedicação.
        




  

domingo, 20 de junho de 2010

O que faz 1 fronteira!

Mesmo ali. Na foz do Guadiana, de um lado o branco das casas algarvias, do outro a cor do tijolo espanhol. E uma ponte com tabuleiro em mau estado leva-nos pelo asfalto...
Espreitei por estes dias, Isla Canela e salta à vista a quantidade de restauros nos empreendimentos mais emblemáticos dos últimos tempos.
Bons acessos. Harmonia nas avenidas cheias de separadores, palmeiras e lombas para os excessos de acelerador.
Praia limpa, vigiada, com jeeps da protecção civil e guardia civil presentes permanentemente, chuveiros de duche e pés modernos em cada acesso ao areal.
No passeio marítimo grupos de miúdos, dois a dois, devidamente identificados com T-shirts do Instituto de Estudos Económicos das Províncias de Espanha, equipados de bonés, óculos escuros de marca e PDA's fazem inquéritos sobre turismo a quem passa.
Não nos perguntam o sobrenome, apenas querem o nosso nome próprio, de onde viemos, quanto combustível gastámos em média. Querem saber se alugámos casa ali...a particulares, a agência, pessoalmente, por telefone, ou via internet. Querem saber quanto tempo vamos ficar, um cálculo sobre o custo do aluguer, qual o regime, se MP, PC ou sem refeições.
Depois passam à qualidade dos serviços, se estamos satisfeitos com os níveis de higiene e limpeza e outros serviços... se é a primeira vez que visitamos o local, ou não. Querem saber ainda o que vamos fazer durante a estadia, ir apenas à praia, ou visitar monumentos, viajar pela região, visitar o Parque D. Aña, Isla Mágica, etc.
No final, reforçam que não querem saber o nosso nome completo, apenas o 1º e pedem-nos o e-mail para validarmos as respostas que nos vão enviar um dia.
Tanto trabalho para quê? Será a crise? Será que os espanhóis se preocupam com a queda das taxas de ocupação?
É domingo. Os Centros Comerciais fecharam em Espanha. Os Mercadonas, também. Mas a restauração está a funcionar. As refeições continuam baratas para o bolso dos portugueses, 4 a 5 euros, mesmo nos restaurantes à beira praia, onde não faltam lugares para estacionar.
No areal há pouca gente de papo para o ar e a banhar-se no mar, apenas se avista algumas famílias com crianças e casais de terceira idade.
Fazemos a viagem de volta. Voltamos a passar a ponte sobre o Guadiana e a sentir o pavimento em péssimo estado, que já tinhamos esquecido ao percorrer as "carreteras" espanholas.
Paramos nos primeiros hipermercados portugueses, meia dúzia de pessoas a encher o carrinho de compras. Nas ruas olhamos os menús dos snacks e restaurantes portugas onde imperam outros preços. Não conseguimos comer por menos de 7 euros em média e isto já a ser optimista. O café universalizou-se por estas paragens ao preço de 70 cêntimos por bica.
Livros? Bom, encontramos a Insustentável Leveza do Ser do Milan Kundera, ou qualquer obra de Lídia Jorge, ou Agualusa, entre os 23 a 26 euros. Também há guarda-sóis de entretela a 7,50 € e os de fibra de nylon variam dos 15 aos 17,50€ ( deve ter a ver com o tamanho). Até os chinelos e havaianas, sejam Ipanema, beepi ou outra marca ranhosa qualquer, não custam menos de 20 euros. E este é o Algarve barato, nem quero imaginar, o caro !
Este é o Algarve dos pescadores, das aldeias à beira mar plantadas, com construções irregulares, que desconhecem e desrespeitam aquilo que chamamos de ordenamento urbanístico. Condomínios, vivendas e apartamentos construídos em qualquer canto.
É o Algarve dos rebanhos de cabra junto aos relvados dos campos de golf, das mulas e cavalos com arreios a pastar durante o dia, para à noite se mascararem de Cristianos ronaldos e outras estrelas para levar os turistas a passear pela região.
O Algarve das ruas estreitas e sujeitas a mudanças de sentido de sinalização de trânsito, de ano para ano. Dos jipes da GNR parados junto aos parques de estacionamento das praias. Dos rallies de moto-quatro dos banheiros nos areais, sujos ainda do Inverno, da maioria dos bares e concessionários de praia fechados, das gaivotas e motas d' água à esturra do sol, sem ainda estarem sujas de limos, ou algas.
É o Algarve dos toldos e chapéus de sisal africano ressequidos à espera dos veraneantes, que teimam em não chegar. Esta tarde contei 20 chapéus-de-sol coloridos na praia, mas horas depois ficaram apenas oito.
É certo que não é humano sujeitar ninguém ao sol das 3 da tarde e que os raios ultra violetas estão cada vez mais perigosos, mas a verdade é que se dermos uma volta a pé, também não vimos quase ninguém e ficamos na dúvida se os portugueses já adoptaram o hábito da siesta dos espanhóis! Mas de noite também não há banhos de mutidão a passear, ou a levar os meninos aos barulhentos carrocéis, a petiscar, ou beber café e comer 1 gelado, em qualquer bar, café ou pastelaria que tão bem caracterizam estas paragens.
Parece que o apelo do presidente para irmos para fora cá dentro ainda não foi ouvdo. Pode ser cedo, é certo. Afinal estamos em Junho e o Verão só chega amanhã. Mas 1 estudozito como fazem os espanhóis também não custava nada e até alimentava a taxa de emprego sazonal, com recurso aos tão famosos ATL's para adolescentes. E sempre ficávamos a saber se a malta gosta mesmo disto assim, ou ver alguma melhoria :)

sábado, 12 de junho de 2010

O Despeito

Poderia dizer que o despeito é a tal raíz maligna e que responde por muitos males o mundo!

Mas não concordo que o despeito seja apenas uma planta maléfica enraizada na inveja doentia. É mais do que isso. É sintoma de mau estar de quem o pratica.

É verdade que quem se sente despeitado se inspira em atitudes infelizes, fomenta perseguições gratuitas, acusações incessantes, informações venenosas. Mas também prova que o despeitado nunca olhou do outro lado do espelho, para lá das linhas do rosto. Nunca se auto-avaliou, nunca procurou as razões da deturpação do seu amor-próprio. Prefere descobrir sempre o tal lado infeliz de qualquer

questão, de preferencia nos outros, o tal "alfinete perdido no palheiro".



Sofre sem necessidade, amargura-se constantemente e luta contra os dragões que vê nos outros, quando o problema é somente dele. E ele até aprende a compartilhar o triunfo de quem tem ao lado, é preciso é que essa partilha não cesse. Senão, o bestial passa a besta em fracção de segundos. E aquilo que era triunfo, passa a derrota, no cair da capa.

Depois á sempre aquela grelha de valores tão característica de situações de ruptura, que ajudam na culpabilização, na argumentação e na vitimização.



Aprendemos nas artes da vida, quer seja na guerra, ou no jogo, que a reflexão, a auto-crítica e o reconhecimento dos nossos erros é o melhor remédio, para seguirmos caminho, caminhando, com todo o peso de que não nos conseguimos livrar e com toda a leveza do ser, seja insustentável, ou não. Mas nem sempre temos essa capacidade de fazer a catarse. É bem mais fácil, revestir a auto-estima dos erros dos outros e responsabiliza-los das mil capas que se calhar nem têm, ou mandá-los para uma guilhotina qualquer, à espera de aprovação social.

Esquecemo-nos nessas fases, que a sociedade somos nós. Somos nós quem ajuda a construir, ou destruir, a reputação dos outros, do grupo, dos grupos, mas também a nossa.

Por isso, antes de atirar a tal 1ª pedra, toca de olhar para o nosso próprio telhado, só assim crescemos, só assim nos fazemos Homens e Mulheres.

Eu pelo menos, tento.

domingo, 6 de junho de 2010

O ciúme

Quem nunca teve 1 namorado que desatou à pancada ao trauseunde que teve o azar de olhar para o grupo de amigos em que se encontravam? Quem nunca teve 1 namorado que vos partiu a cabeça por irem ter com ele com 1 sorriso estampado na cara às 6 da manhã? Quem nunca vos fez sentir mal por vestirem 1 mini-saia ou calção mais justo e curto? Quem nunca pôs em causa uma relação por 1 sentimento absurdo sem razão de existir?

É para essas pessoas que escrevo, sem medo de assumir o fracasso, por ter sentido na pele, o que de pior existe no ser humano, quando levado ao extremo.

De acordo com a psicóloga Ayala Pines, ciúme é "a reação complexa a uma ameaça perceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade.. Provoca o temor da perda e envolve sempre três ou mais pessoas, a pessoa que sente ciúmes - sujeito activo do ciúme -, a pessoa de quem se sente ciúmes - sujeito passivo do ciúme - e a terceira ou terceiras pessoas que são o motivo dos ciúmes - pivô do ciúme.


Segundo a psicóloga clínica Mariagrazia Marini, esse sentimento apresenta caráter instintivo e natural, sendo também marcado pelo medo, real ou irreal, de se perder o amor da pessoa amada. O ciúme está relacionado com a falta de confiança no outro e/ou em si próprio e, quando é exagerado, pode tornar-se patológico e transformar-se em uma obsessão.

A explicação psicológica do ciúme pode ser uma persistência de mecanismos psicológicos infantis, como o apego aos pais que aparece por volta do primeiro ano de vida ou como consequência do Complexo de Édipo não resolvido]; entre os quatro e seis anos de idade, a criança se identifica com o progenitor do mesmo sexo e simultaneamente tem ciúmes dele pela atracção que ele exerce sobre o outro membro do casal; já na idade adulta, essas frustrações podem reaparecer sob a forma de uma possessividade em relação ao parceiro, ou mesmo uma paranóia.

Nesse tipo de paranóia, a pessoa está convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade do parceiro e passa a procurar “evidências” da traição. Nas formas mais exacerbadas, o ciumento passa a exigir do outro coisas que limitam a liberdade deste.

Algumas teorias consideram que os casos mais graves podem ser curados através da psicoterapia que passa por um reforço da auto-estima e da valorização da auto-imagem. Porém várias teorias criticam a visão psicanalítica tradicional (exemplo:esquizoanálise).

Outros casos mais leves podem ser tratados através da ajuda do parceiro, estabelecendo-se um diálogo franco e aberto de encontro, com a reflexão sobre o que sentem um pelo outro e sobre tudo o que possa levar a uma melhoria da relação, para que esse aspecto não se torne limitador e perturbador.

Há vários relatos de conselheiros sentimentais, psicoterapeutas e outros com aspirações a isso, mas o facto é que a realidade mostra uma coisa muito simples:

Existe um quadro clínico chamado Ciúme Patológico que realmente não melhora com nenhuma forma de psicoterapia mas pode melhorar muito com doses baixas de neurolépticos.

Mas o ciúme Patológico é impossível tratar se a pessoa não aceitar que sofre disso.

E as pessoas que sofrem de Ciúme Patológico quase nunca reconhecem. Quem aceita que tem e sofre com isso, deve aproveitar e procurar um psiquiatra para se tratar, isso passa. O problema é que as pessoas quase nunca querem tratar.



1 ESTUDO ACADÉMICO SOBRE CIÚME:

Ciúme

Na mitologia grega, o ciúme aparece na história da Deusa Hera que ao matar as amantes (mortais) de Zeus manifestava o seu ciúme pelo medo de perder o poder. Outra manifestação de tal sentimento aparece na história de Medeia, que por ciúmes mata o marido, a amante e involuntariamente seus filhos.

Segundo Moreno (2004) "desde o seu nascimento, Hércules, que era metade divino e metade humano, foi perseguido pelo ciúme de Hera, a senhora do Olímpo, que via naquele menino mais um odiosa evidencia das traições de Zeus".

É conhecido também como a síndrome de Otelo, uma das principais obras do escritor inglês William Shakespeare, publicada em 1604. A história conta a tragédia do bravo "Mouro de Veneza" Otelo, veterano de terríveis batalhas e representante militar do reino de Veneza. Casado com a bela Desdêmona, Otelo cede às intrigas de seu subordinado Iago e, possesso de ciúme, mata sua esposa. Ao descobrir o engano, Otelo comete suicídio. É célebre a frase de Shakespeare que diz: "os ciumentos não precisam de motivo para ter ciúme. São ciumentos porque são. O ciúme é um monstro que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce".

Mais próximo à realidade brasileira podemos verificar o ciúme na obra de Machado de Assis (1899), Dom Casmurro, no momento em que Bentinho, o protagonista da história sente ciúme de sua esposa Capitu ao achar que ela o está traindo.

De acordo com Marazziti (2003), o ciúme é definido como a percepção do individuo frente a ameaça ou perda de valores no relacionamento para um rival real ou imaginário,como pensamentos infundados de falsa fidelidade.

Segundo Ballone (2004) no que diz respeito ao ciúme a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza, freqüentemente se torna vaga e imprecisa. No ciúme as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou francamente delirantes. O ciúme seria um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos de alguma ameaça à estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado. As definições de ciúme são muitas, tendo em comum três elementos:

• E. Ser uma reação frente a uma ameaça percebida;

• F. Haver um rival real ou imaginário e;

• G. A reação visa eliminar os riscos da perda do objeto amado.

Segundo Guimarães (2004), o ciúme nada mais é do que a dificuldade que uma pessoa tem com relação à sua segurança em manter o afeto, o interesse de alguém com quem se mantém um relacionamento afetivo, que pode ser amoroso ou não. "O ciúme tem uma característica especial que envolve a auto-estima que a pessoa tem e o julgamento que ela faz do envolvimento do outro". Mesmo havendo uma causa específica comprovada para o ciúme, muitos especialistas afirmam que o sentimento estaria relacionado com um rebaixamento da auto-estima, a alguns problemas de infância e a deficiências psicológicas.

Assim como Marani (2001) nos diz, o ciúme não é uma única emoção simples, mas combinações múltiplas de várias emoções que podem aparecer em conjunto ou agrupadas e que são a inveja, seguida de raiva, ódio, pena, autocomiseração, vingança, tristeza, mortificação, culpa, vaidade, inferioridade, orgulho, medo, e ansiedade. Todo ser humano sofre de ciúme, seja ele moderado ou patológico (grifo nosso) ou é alvo ou instrumento do ciúme de outros seres humanos e como a sua manifestação é universal, os autores concordam em aceitar que seja normal na evolução do ser humano. Sua manifestação está sempre muito próxima da ansiedade e pode assumir diagnóstico grave ao persistir durante muito tempo. De acordo com Sims (2001), o sentimento do ciúme, juntamente com sentimento de que o objeto amado "pertence a mim" e "eu pertenço ao outro", é parte da experiência humana normal.

Conforme Marani (2001) o ciúme é um sentimento normal quando surge como resposta a uma situação real, imediata, com sua duração limitada a um tempo que nem sempre é definido, porém certamente limitado. Quando o ciúme começa a se prolongar no tempo e aumentar de intensidade, alguma coisa deve estar acontecendo. O ciúme atua mais na esfera da angústia e da ansiedade, gerando, portanto, estados ansiosos mais persistentes.

Segundo Ferreira-Santos (2003) pg. 78 "algumas pessoas são mais ciumentas do que outras, mas há situações em que essa simples conceituação quantitativa do sentir começa a mostrar que numa determinada pessoa, o ciúme foge totalmente do seu controle, tomando uma porção considerável de sua vida, senão toda ela."

Neste caso, já poderia se entender o ciúme em um nível patológico, conforme discutiremos no próximo capítulo.

2.2. Ciúme Patológico

Segundo Guimarães (2004), pelo menos três situações seriam propícias para o desenvolvimento de algum grau de ciúme. Na primeira, a auto-estima da pessoa é baixa, e ela se percebe inferior em diversos aspectos, que vão desde a aparência física até os atributos intelectuais. Uma outra situação é aquela em que o parceiro freqüentemente manifesta um interesse real por outras pessoas. Há ainda uma terceira situação, o chamado ciúme patológico.

Ey 1950 apud Sims (2001) diz que o ciúme patológico ou mórbido pode se manifestar de várias formas, por exemplo, como delírio, como idéia supervalorizada, como afeto depressivo ou como um estado de ansiedade. O ciúme pode ser identificado como delirante quando a crença do cônjuge ou outros está baseada em evidências delirantes. Tais delírios são resistentes ao tratamento e não mudam com o tempo.

Segundo Ballone (2004), o conceito de Ciúme Patológico compreende vários sentimentos perturbadores, desproporcionais e absurdos, os quais determinam os comportamentos inaceitáveis ou bizarros. Esses sentimentos envolveriam um medo desproporcional de perder o parceiro(a) para um(a) rival, desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no relacionamento interpessoal. Depois das idéias de ciúme, a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas dúvidas. O(a) ciumento(a) verifica se a pessoa está onde e com quem disse que estaria, abre correspondências, ouve telefonemas, examina bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas, segue o companheiro(a), contrata detetives particulares, etc. Toda essa tentativa de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida. Depois da capitulação, a confissão do companheiro(a) nunca é suficientemente detalhada ou fidedigna e tudo volta à torturante inquisição anterior. Os ciumentos estão em constante busca de evidências e confissões que confirmem suas suspeitas, mas ainda que confirmada pelo(a) companheiro(a), essa inquisição permanente traz mais dúvidas ainda ao invés de paz.

Segundo o DSM.IV.TR ( 2003 pg.327) tópico sobre transtorno delirante aparece o tipo ciumento:

"Este subtipo aplica-se quando o tema central do delírio diz respeito a estar sendo traído pelo cônjuge ou parceiro romântico, esta crença é injustificada e esta baseada em inferências incorretas apoiadas por pequenas evidencias, que são colecionadas e usadas para justificar o delírio. O individuo com o delírio geralmente confronta seu cônjuge e parceiro e tenta intervir na infidelidade imaginaria".

No DSM.IV.TR (2003) os Critérios Diagnósticos para Transtorno Delirante (F22.0 - 297.1) pg. 330, onde se inclui o Transtorno Delirante de Ciúme seriam:

• H. Delírios não-bizarros que envolvem situações da vida real, tais como ser seguido, envenenado, infectado, amado a distância, traído por cônjuge ou parceiro romântico ou ter uma doença com duração mínima de 1 mês.

B. O critério A para Esquizofrenia não é satisfeito.

• I. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de suas ramificações, o funcionamento sócio-ocupacional não está acentuadamente prejudicado, e o comportamento não é visivelmente esquisito ou bizarro.

• J. Se episódios de humor ocorreram durante os delírios, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos delirantes.

• K. A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância, como por exemplo, uma droga de abuso, um medicamento ou não se deve à uma condição médica geral (onde se exclui o ciúme do alcoolista).

Especificar tipo (os tipos seguintes são atribuídos com base no tema predominante do(s) delírio(s):

Tipo Erotomaníaco: delírios de que outra pessoa, geralmente de situação mais elevada, está apaixonada pelo indivíduo.

Tipo Grandioso: delírios de grande valor, poder, conhecimento, identidade ou de relação especial com uma divindade ou pessoa famosa.

Tipo Ciumento: delírios de que o parceiro sexual do indivíduo é infiel.Tipo Persecutório: delírios de que o indivíduo ou alguém chegado a ele está sendo, de algum modo, maldosamente tratado.

Tipo Somático: delírios de que a pessoa tem algum defeito físico ou condição médica geral.Tipo Misto: delírios característicos de mais de um dos tipos acima, sem predomínio de nenhum deles.

Tipo Inespecífico.

"Existem indícios de que alguém pode estar vivendo o ciúme de forma prejudicial, como por exemplo, quando o temor da perda do outro se torna obsessiva e a pessoa fica refém desse medo. Ela passa a não ter mais vida própria, abandona seus interesses e passa a viver a vida do outro, pois o pavor de ser trocado por outra pessoa ou situação, ameaça a sua própria integridade psíquica, não acreditando na possibilidade de estar só. Nesses casos, existe a crença de que o outro é possuidor das coisas boas e a pessoa que sofre deste ciúme doentio depende totalmente dele para viver bem. Por isso, se ele for embora, levará consigo parte de sua vida. Analisando sobre o prisma psicológico temos dois parâmetros: quando a rivalidade é aguçada pelo medo da perda e quando a voracidade é estimulada por este temor. É na segunda hipótese que existe o perigo de que este sentimento torna-se obsessivo", afirma Rossi (2003).

Por isso, como será explicado mais adiante, o Ciúme Patológico pode estar relacionado ao Transtorno obsessivo Compulsivo (TOC), que será mencionado no próximo capítulo.

2.3. Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)

Segundo o DSM – IV- TR (2003pg. 443):

"O Transtorno Obsessivo Compulsivo é caracterizado principalmente por obsessões e compulsões suficientemente graves a ponto de consumirem tempo ou causarem sofrimento acentuado ou prejuízo significativo".

De acordo com a APA (1994) não há ainda uma confirmação sobre a etiologia do transtorno, podendo esta estar atrelada a diversos fatores como, por exemplo, a hereditariedade.

Para Baptista, Dias e Calais (2001), o TOC pode estar associado com Transtorno Depressivo Maior, outros Transtornos de Ansiedade, Transtornos Alimentares e Transtorno da Personalidade Obsessivo-Compulsiva. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo não relacionado a transtornos de personalidade é um subgrupo muito pequeno, e que os transtornos de personalidade coexistem na maioria dos casos clínicos.

Segundo Rosário-Campos (1999), o TOC é um transtorno crônico que acomete cerca de 2% da população em geral, manifestando-se independentemente de sexo, raça, escolaridade, estado civil, nível socioeconômico, religião ou nacionalidade. De acordo com a APA (1994), geralmente inicia-se na adolescência, ou começo da idade adulta, podendo aparecer, também, na infância, tendo a idade modal de início para os homens entre 6 e os 15 anos, e entre 20 e 29 anos para as mulheres

Zamignani (2001) caracteriza o TOC, como um transtorno de ansiedade, e sabendo-se que a ansiedade não é auto-determinada, e que existem, portanto, fatores ambientais responsáveis pela sua ocorrência. Supõe-se que a funcionalidade da resposta pode desempenhar um papel importante na manutenção e freqüência dos comportamentos obsessivo-compulsivos. Assim como, sua intensidade e freqüência podem estar relacionadas à estimulação aversiva presente no ambiente.

Segundo a SOS TOC – um projeto do Departamento de Psiquiatria – UNIFESP, a pessoa portadora de TOC tenta ignorar ou eliminar os sintomas através de ações que são intencionais e repetitivas. Geralmente reconhece que seu comportamento é excessivo ou que não há muita razão para fazê-lo. As obsessões ou compulsões acarretam grande estresse, consomem tempo (mais de uma hora por dia) ou interferem bastante na rotina normal, no trabalho ou nas atividades sociais e relacionamentos interpessoais.

Compulsão

Segundo o DSM – IV – TR (2003pg. 443) as compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais cujo objetivo é prevenir ou reduzir a ansiedade ou sofrimento, em vez de oferecer prazer ou gratificação. Estas são seguidas de alívio temporário da ansiedade ou desconforto gerado pelo pensamento obsessivo, mesmo sendo reconhecidas como excessivas e irracionais pelo indivíduo.

De acordo com Sims (2001), o comportamento compulsivo freqüentemente provoca uma ansiedade adicional na pessoa, pela necessidade tanto de executar a ação quanto de preservar sua aceitação social.

Obsessão

A palavra obsessão é normalmente reservada para o pensamento.

As obsessões são idéias, pensamentos, impulsos ou imagens persistentes, que são vivenciadas como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento.

Ainda segundo o DSM-IV-TR (2003 pg. 443), as Obsessões, seriam definidas por: (1) pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento.

(2) os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas com problemas da vida real.

(3) a pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens, ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.

"O dilema dos sintomas obsessivos diz respeito ao fato de serem considerados parte do comportamento do próprio paciente, que se esforça para resistir a eles, sem sucesso: isto é, estão sob controle voluntário, mas não são experenciados como completamente voluntários. A obsessão pode ocorrer como pensamento, imagens, impulsos, ruminações ou temores". Sims (2001, pág. 277).

Segundo Schneider, (1959 apud Sims 2001, pg 277), não existe perda com o contato com a realidade. "Uma obsessão ocorre quando alguém não consegue ver-se livre de um conteúdo da consciência, embora quando este ocorre ela perceba que não faz sentido ou pelo menos que está lhe dominado e persistido sem causa".

Considerações Finais

Segundo Ballone (2004), o portador de Ciúme Patológico é um vulcão emocional sempre prestes à erupção e apresenta um modo distorcido de vivenciar o amor, para ele um sentimento depreciativo e doentio. Esse paciente seria extremamente sensível, vulnerável e muito desconfiado, portador de auto-estima muito rebaixada, tendo como defesa um comportamento impulsivo, egoísta e agressivo. Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, as quais podem ocorrer como pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações sem fim sobre fatos passados e seus detalhes. No Ciúme Patológico o amor do outro é sempre questionado e o medo da perda é continuado. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo há sempre dúvida patológica com verificações repetidas, mesmo fenômeno que se observa no Ciúme Patológico. O medo da perda é também um sintoma proeminente nos dois casos.

Segundo Torres (1999) vários autores sugeriram a relação entre Ciúme Patológico e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), com abordagens terapêuticas comuns. Assim, pensamentos de ciúme podem ser vivenciados como excessivos, irracionais ou intrusivos e podem levar a comportamentos compulsivos, como os de verificação.

Ainda segundo Ballone (2004), o Ciúme Patológico envolve riscos e sofrimentos, podendo ocorrer em diversos transtornos mentais. Na psicopatologia o ciúme pode se apresentar de formas distintas, tais como idéias obsessivas, idéias prevalentes ou idéias delirantes sobre a infidelidade. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o ciúme surge como uma obsessão, normalmente associada a rituais de verificação. Sob vários aspectos constata-se que os pensamentos de ciúme partilham várias características com os pensamentos das obsessões: são freqüentemente intrusivos, indesejados, desagradáveis e por vezes considerados irracionais, em geral acompanhados de atos de verificação ou busca de reasseguramento. Os indivíduos que avaliam suas atitudes como inadequadas ou injustificadas teriam mais sentimentos de culpa e depressão, enquanto os demais apresentariam mais raiva e comportamentos violentos. Assim, nos pacientes obsessivos as preocupações de ciúme tipicamente envolvem maior preservação da crítica, mais vergonha, culpa e sintomas depressivos, menor agressividade expressa e muitas ruminações e rituais de verificação sobre acontecimentos passados. De fato, há casos em que predominam comportamentos relacionados à depressão, tais como: retraimento, dependência e maior demanda por demonstrações afetivas, por vezes alternados com raiva, ameaças e agressões.

Segundo Seeman (s/d apud Torres 1999), enquanto no ciúme delirante o paciente está convencido da traição, o ciúme patológico caracteriza-se por dúvidas e ruminações sobre provas inconclusivas, em que certeza e incerteza, raiva e remorso alternam-se a cada momento, o que também acontece no TOC. No entanto, nem sempre seria simples essa distinção. No ciúme patológico, assim como ocorre com sintomas mais clássicos do TOC, o grau de crítica pode variar consideravelmente de paciente para paciente e, ao longo do tempo, passando a ser útil a noção de "espectro" de sintomas variando de obsessivos a delirantes.

Conforme verificamos, portanto, como era apresentado como primeira hipótese, o Ciúme patológico e o TOC apresentam sintomas nucleares comuns, sendo o Ciúme Patológico uma manifestação prevalente no TOC, ou seja, uma forma do próprio deste.

E fica a sugestão, verificar destes sintomas em relação a outros distúrbios psiquiátricos, como o alcoolismo, esquizofrenia, entre outros.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Hoje estou profundamente infeliz. E a infelicidade ultrapassa os problemas caseiros.

São outros problemas caseiros que ainda me fazem doer o peito e remexem as entranhas, de uma forma que não consigo controlar.

Estou triste por existirem maus tratos. Por existirem bestas que os cometem e por existirem mulheres que se prestam a isso. Sim, porque calar, é consentir. E qual é o limite? Todos sabemos qual é. Para lá da humilhação, da dor, do drama, está o fim da linha - a morte.

Estou triste com a sociedade que criamos, por condenar 1 separação, valorizar 1 casamento e não condenar, nem no mesmo patamar, uma agressão.

Como se sentiriam se olhassem para o lado e percebessem que as amigas que mais amam e mesmo as que odeiam, já passaram pelo menos 1 vez na vida, por um episódio destes? Ou com 1 namorado, ou com 1 marido, ou com 1 companheiro?

O distrito de Santarém destaca-se pelo número de casos de violência doméstica. O que é isto? Quem somos? O que queremos afinal?

Não estou nada orgulhosa de ser scalabitana, de ter nascido numa terra que valoriza ao extremo o casamento e aceitar que nele valha tudo. Que se limita a troçar de quem vive sózinho, por ter falhado 1 relação, ou se limita a ter pena.

Pena é o pior que se pode ter de alguém. Pena não mostra compaixão ou misericórdia, mostra uma cambada de beatice, gente que nunca se emancipou, que nunca soube o que é erguer o pulso e avançar pela vida, mesmo no escuro....

E digo-vos, minhas senhoras, há sempre 1 luz ao fundo do túnel, nem sempre quando queremos, é certo, mas está lá sempre e começa por nós....há momentos na vida que mais vale só que mal acompanhada.

Acreditem.

E esse silêncio, esses narizes empinados, esses status teatralizados com casas luxuosas, roupas e carros de marca que se exibem....são mesmo mais importantes que o vosso íntimo?

Eu penso no que Ghandi questionava: haverá maior verdade que combater a força com a razão?

Por favor, não se calem. Olhem para vós como seres com direito à dignidade, ao respeito, ao amor, à confiança e à felicidade. Há sempre 1 futuro que merecem. E que os vossos filhos merecem. Essa tarefa começa agora, no presente.  Por favor!